18.8.07

JJ 3054, o vôo da morte

São Paulo. A maior cidade do país, que nunca pára, começa a encerrar mais um dia de trabalho. Início do horário de pico, muitos trabalhadores vão seus carros, ônibus coletivos ao merecido descanso. Cai à tarde, e a noite sinaliza a sua chegada.

Na Zona Sul da capital paulista, a garoa ganha seu espaço. As principais vias de acesso da cidade começam a ficar congestionadas. Próximo à avenida Washington Luis, há o aeroporto mais movimentado da América Latina. Quando todos pensavam que seria mais um dia normal, um avião rasga a pista principal de Congonhas, passa por cima do trânsito e eclode com um prédio.

O inferno foi instalado. Àquela região da cidade foi violentada. Um incêndio interminável, equipes do Serviço Médico de Atendimento de Urgência – SAMU , Corpo de Bombeiros de vários grupamentos de toda a cidade se dirigem ao local da tragédia.

Os bombeiros são pessimistas em relação ao resgate de sobreviventes do avião. O desafio é apagar as chamas o mais rápido possível. Em questão de minutos, dezenas de ambulâncias, carros da imprensa, policiais, caminhões-bomba e viaturas do Corpo de Bombeiros ocupam a avenida Washington Luis que tem o acesso impedido.

As horas passam, no prédio administrativo que foi atingido pelo avião lotado de vidas tem mais pessoas, desesperadas, só querem escapar do inferno que foi instalado naquele lugar. Ironicamente as portas de emergência foram bloqueadas pelo avião.

Os funcionários do prédio administrativo estão desesperados. As saídas de emergências, que eram a última esperança de sobrevivência deles foram friamente bloqueadas pela morte.

Aos que conseguiram fugir de alguma forma, restavam subir na parte externa do prédio. Alguns tentaram salvar a própria vida pulando em uma altura de mais de 10 metros, em vão.

Há uma preocupação com alívio misturados: o avião passou muito perto do posto de gasolina, entretanto, o posto está ao lado do prédio em chamas.

Os soldados do fogo tentam conter a enorme chama que resiste a apagar.
Chama está que apaga vidas com histórias, sonhos, objetivos e destinos que ficam guardados nos corações dos familiares que acompanharam com a alma em frangalhos e com o coração destruído.

Não importa de quem é a culpa. Isto não trará de volta a vida os passageiros e os trabalhadores daquele prédio que estavam naquela triste noite de terça-feira.



Produzi este texto na semana do acidente. Porém, faço a publicação deste texto um mês após esta tragédia porque ainda as medidas concretas não foram tomadas. Este é o Brasil, lamentavelmente.

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